Lucas Urias elaborou um projeto em seu trabalho de conclusão de curso, junto com o orientador Iúry Colatto, que pode ajudar pessoas que possuem amputação em nível transfemoral

Priscyla Limonta e Júlia Carvalho (Baru - Agência Experimental de Comunicação)

Aos 15 anos de idade, Lucas Urias sofreu um acidente de moto. Desde então, é amputado na perna esquerda, na região da coxa. Esse é um dos motivos pelo qual se inspirou e decidiu fazer uma capa para a prótese que utiliza, com o apoio do professor-orientador Iúry Colatto. A proposta garantiu a conclusão do curso no último dia 12, quando ele foi aprovado pela banca composta pelos professores de engenharia Patrícia Maria de Carvalho e Luiz Carlos Machado, no Centro Universitário Alves Faria (UNIALFA).

O grande diferencial do projeto, segundo Lucas, é o escaneamento feito por meio do videogame Xbox 360 e, consequentemente, o espelhamento da perna não amputada para a realização da impressão 3D. De acordo com Iúry Colatto, o objetivo foi criar uma capa que demonstre a maior similaridade possível a uma perna real. Segundo ele, estiveram também, no planejamento, os aspectos dos materiais de fabricação dessa capa, pois o peso da prótese faz diferença ao usuário. “Quanto mais leve, melhor”, afirma.

O professor acrescenta que foi estudada a tecnologia de impressão 3D, que utiliza softwares gratuitos e práticos, possibilita um trabalho mais fiel à anatomia da pessoa com materiais leves e que não aumenta o peso da prótese a ponto de prejudicar o paciente. Segundo o fisioterapeuta e proteticista Robson Limiro Gonçalves, a importância de a capa não ser pesada é que podem haver lesões devido ao encaixe estar com problema e precisar ser corrigido.

Prótese

Robson explica que o nível de amputação é determinado pelo local onde foi cortado, normalmente ele é denominado de acordo com o membro. Ele apresenta como exemplo a transfemoral que é o caso do estudante Lucas Urias: o corte é acima do joelho, ou seja, na coxa. A causa mais comum de quem precisa amputar é o acidente de trânsito, principalmente com moto, e foi o que aconteceu com o estudante. Além disso, Robson afirma que o tempo previsto para iniciar uma protetização, ou seja, colocar a prótese é em média três meses após a cirurgia, podendo variar para mais ou menos dependendo da pessoa e se teve ou não alguma complicação no membro.

O proteticista relata que antes de colocar a prótese é feita uma avaliação física do paciente para saber como está a força, o equilíbrio, a sensibilidade, a dessensibilização e traçar um protocolo de tratamento, para recuperar os movimentos e estes pontos específicos. Em seguida, ele explica que a dessensibilização é a diminuição da sensibilidade alérgica e pode ser feita por meio de massagens, de estimulação elétrica chamado de eletroterapia, estimulação com frio e/ou com calor, com esponjas. A última etapa de acordo com Robson é a colocação da prótese e o treinamento da caminhada.

Autoestima

Nessa situação, Lucas conta que existe, muitas vezes, uma questão de autoestima, que é outro motivo para ele ter desenvolvido a capa como uma forma de ajudar pessoas que também utilizam prótese. Segundo a psicóloga Danielly Alves Souza, é grande a importância do tratamento psicológico de um paciente que perde uma parte do corpo, pois cada um reage de uma forma diferente em relação ao sofrimento. “Diante da nova imagem corporal, eles possuem o receio de serem rejeitados pelos outros com as limitações da nova realidade, o que faz com que tenham baixa autoestima”, explica a psicóloga.

Ela cita os pontos gerais que são trabalhados, como o luto pelo membro perdido, aceitar as novas condições, ajudar a se redescobrir, reinventar e redefinir a partir do acontecimento. Para superar o trauma, Danielly explica que é um processo em construção, não acontece de um dia para o outro. Além disso ela afirma que isso ocorre aos poucos, é preciso muito apoio da família e amigos, do trabalho com o profissional, e cada indivíduo vai levar o tempo necessário para alcançar a superação, para isso tem que ter paciência.

Além do luto, a dor, as dificuldades, os questionamentos que os pacientes têm, segundo Danielly, pode ocorrer também alguns transtornos psicológicos como o de estresse pós-traumático, de ansiedade generalizada, depressivo e alimentares, e a síndrome do membro perdido. Sobre esse último, há casos em que o indivíduo sente o “membro-fantasma”, o que, de acordo com a psicóloga, ocorre porque os neurônios continuam a transmitir atividades elétricas para o cérebro determinando as partes do corpo. “Essas dores podem ser bem intensas e até piorar com o decorrer do tempo”, relata Danielly.

Ela afirma que o tratamento mais indicado seria com atividades, movimentos, exercícios e medicamentos para tratar a parte psicológica, onde entra a psicoterapia. Em relação a depressão, Danielly explica que é elaborado alguns procedimentos como a quantidade de sessões, os temas tratados, as atividades indicadas para o indivíduo, o contato do psicólogo com a família do paciente visando a importância dos círculos de apoio para evolução do caso e possivelmente o trabalho em conjunto com o profissional de psiquiatria na necessidade do uso de medicamentos para a eficácia do tratamento.

A criação de Lucas em seu trabalho de conclusão de curso também tem a intenção de contribuir nesse processo de melhorar a autoestima de pessoas amputadas. De acordo com o, agora, engenheiro, a capa vai dar um visual melhor para quem utiliza a prótese. Ele relata que conhece mulheres e homens que possuem amputação transfemoral e que têm muita vergonha de usar roupas como short, calça, saia, vestido, devido a barra de ferro que é fina. Ele afirma que a capa vai ajudar a pessoa a ter mais autoestima e que ela pode até ser personalizada.